Aromas e sabores do Alentejo
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Um passeio pela sua paisagem única é ainda melhor quando se pára no sítio certo para apreciar a sua cozinha.
Publicado em 04-Set-2023
É difícil haver algo que mais me dê prazer do que olhar para uma paisagem que me transmita a sensação de infinito. Isso acontece principalmente de manhã cedo, quando ainda não há quase ninguém lá fora, os dias estão límpidos e estou numa praia do meu país a olhar o oceano. Mas também sinto isso por vezes no interior do Baixo Alentejo, no tempo frio, a olhar para aquele ondular eterno que me faz sentir confortável e em paz.
É provável que lá volte muitas vezes em busca dessa sensação, sobretudo no tempo mais frio, quando percorro lentamente os seus campos, me chego às margens da albufeira do Alqueva, do Caia ou da Apartadura para tirar mais uma foto, me sento naqueles restaurantes que conheço, ou ainda não, de preferência para sentir de novo sabores do Alentejo que me ficaram na memória.
Um deles foram umas migas bem apertadas e temperadas com alho e azeite, que fizeram companhia a uma mista de peixe frito, que apenas saboreei duas horas e meia após ter chegado ao restaurante. Não sei se foi também pelo inusitado da espera, se pela beleza do pequeno Porto das Barcas no litoral alentejano, mas nunca mais me esquecerei do sabor daquelas migas, que me deram prazer como nenhumas outras até hoje.
Nem no mesmo sítio. Claro que gosto sempre que venha pão da região para a mesa, azeitonas, queijo de ovelha, de preferência bem curado, e de vez em quando um enchido da região. E de comer sopa de cação, desde que não esteja demasiado carregada de coentros, de bacalhau e de peixe com hortelã-da-ribeira. Mas a carne de porco temperada de alho e pimentão, frita em banha e servida na companhia de migas, as bochechas de porco assadas no forno, o cozido de grão, um arroz ou uma feijoada de lebre, quando tenho sorte, ou mesmo uma perdiz estufada, se bem feitos, são pratos que me fazem tão feliz, que tornam o meu repasto numa maratona, já que gosto de apreciar as coisas boas bem devagar, tal como devem ser feitas todas as pausas desta vida.
Claro que a escolha do vinho para companhia é essencial. Felizmente, hoje há, no Alentejo, muitas opções de qualidade, não só no interior, mas também junto ao oceano Atlântico. Vale a pena descobri-los nas cartas de uma parte significativa dos seus restaurantes, onde costumam estar bem representados. Este mês junto algumas sugestões para companhia de pratos alentejanos, e não só, entre os vinhos que provei mais recentemente.
Aldeia de Cima Reserva Branco
Produtor: Herdade Aldeia de Cima do Mendro
Castas: Antão Vaz, Arinto, Alvarinho e Roupeiro
Ano de colheita: 2021
Vinho de aroma fresco, intenso, com notas citrinas a lembrar tângera e tangerina, palha seca e madeira. Boca com volume, fresca, com alguma textura e estrutura e final longo. Um vinho para beber a cerca de 12 ºC no copo, na companhia de queijos de ovelha, enchidos e presuntos, um peixe assado no forno ou silarcas ou tortulhos (cogumelos de um fungo que vive em simbiose com a azinheira e o sobreiro) com ovos mexidos, por exemplo.
Ervideira Invisível
Produtor: Ervideira Sociedade Agrícola
Castas: Aragonez
Ano de colheita: 2022
Vinho branco alentejano produzido com uvas tintas e lançado, todos os anos, no dia 1 de abril, o das mentiras, mostra no aroma notas de lima, abrunhos, rebuçado de framboesa e palha seca. Fresco e elegante na boca, tem um final longo e persistente. Servido a 14-16 ºC, será uma boa companhia para uma sopa de cação ou até um arroz de lebre, por exemplo, mas fica bem com vários pratos de peixe e marisco, se servido a temperaturas mais baixas.
Herdade Grande Colheita Selecionada Rosé
Produtor: Herdade Grande
Castas: Aragonez, Touriga Nacional e Trincadeira
Ano de colheita: 2022
Vinho regional alentejano rosé, de aroma fresco em que se salientam notas de framboesa e groselha. Boca fresca, com boa acidez, alguma textura e estrutura e um final longo. Servir a 12-14 ºC na companhia de pratos de peixe e porco preto grelhados. Experimente-o com espargos verdes fritos com azeite, alho e piripíri.
Olho do Mocho Reserva Tinto
Produtor: Herdade do Rocim
Castas: Alicante Bouschet e Trincadeira
Ano de colheita: 2021
Tinto alentejano de aroma contido, fresco, no qual se salientam notas de fruta silvestre, café, tabaco e caixa de charutos. Boca com estrutura de taninos finos, com algum volume e elegância e um final bem longo com algum amargo, que o torna boa companhia para pratos mais robustos, como um sarapatel, carne de porco frita com migas, ou um belo borrego guisado, ou em caldeirada, na companhia de pão frito. O queijo seco de ovelha, sempre ele, no final, será certamente uma grande companhia. Servir a 16-18 ºC no copo.
Esporão AB tinto
Produtor: Esporão
Castas: Alicante Bouschet
Ano de colheita: 2015
Vinho produzido no Alentejo, de aroma intenso, fresco e profundo, em que se salientam notas de fruta preta e silvestre, cânfora. Boca fresca, com volume e estrutura de tanino bem integrado, num vinho harmonioso, elegante e equilibrado, com persistência de notas de fruta e madeira encerada. Um belo vinho para os aromas da carne, que ficará bem com bifes de vitela e outros pratos cozinhados de carne vermelha e caça, como arroz de lebre e perdiz estufada. Servir a 18 ºC.
Por C-Studio / Cofina Media