Vinhos para festejar o Carnaval em casa
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Agora que não há corsos nem festas de Carnaval cheias de gente, o melhor mesmo é mascararmo-nos e dançarmos em casa com a malta da família, aproveitando para soltar o riso enquanto petiscamos na companhia de bons vinhos.
Publicado em 11-Fev-2021 por José Miguel Dentinho, jornalista
O Carnaval, comemorado sobretudo nas zonas do nosso planeta sob influência cristã, é um período reservado para as últimas transgressões até ao período da Quaresma, aquele que antecede a Páscoa.
Momentos de festa e alegria
Na verdade, não são transgressões, mas sim momentos de festa e alegria, comemorações públicas que ocorrem, por cá, um pouco por todo o país, organizadas em concelhos como Loulé, Sines, Torres Vedras, Mealhada, Ovar e por aí fora, com corsos carnavalescos com carros alegóricos, gente mascarada de tudo o que é possível e imaginável, muita música e muita dança.
Consta que a forma moderna de comemorar este período começou no início do século passado em Paris e estendeu-se um pouco por todo o mundo. Hoje há um pouco de tudo, desde a singularidade do Carnaval de Veneza, com as suas máscaras características, à festa apoteótica do Rio de Janeiro que tornou, esta cidade, num polo de atração de todos os foliões do mundo.
Carnaval também é tempo de petisco
É verdade que frequentei alguns, primeiro, porque os meus pais me levavam, depois, porque a minha malta gostava de lá ir. Eu, nem tanto. Talvez por não gostar de levar com sacos de água nem de arroz bem prensado em cima, que me tentassem encher a boca de confetes e sobretudo das chamadas bombas de Carnaval, que felizmente acabaram. O resultado de tudo isso é que passei a preferir passear para um lado qualquer, fora do bulício das festas, sempre com paragem para petiscar qualquer coisa de que goste, na companhia do melhor parceiro da lista de vinhos, ao melhor preço, é claro, com uma passeata a seguir, para despertar e pelo gosto de o fazer.
E de cozinhar para a família
Mas também faço muitas vezes o Carnaval em casa, com a família e amigos, pois os períodos de descanso mais prolongados são bom pretexto para estar à mesa, e esta é muito mais atrativa quando está coberta de coisas boas para o olhar, olfato e gosto. Como sou petisqueiro e não escondo que gosto muito de espumante bruto, que serve, para mim, todos os momentos da refeição menos o tempo de sobremesas, escolhi dois, um branco e um rosé, porque me fariam companhia para as conquilhas e o lingueirão e a sapateira que gostaria de ter à mesa neste Carnaval, as gambas cozidas, que tenho de comer todos os fins de semana, o presunto e a cabeça de xara que gosto de ter como entrada, o choco, o carapau e o cação fritos, de que já tenho saudades, na companhia de batatas bem fritas ou de um simples arroz de tomate. Depois disto tudo, confesso que sou mais de carne do que de peixe, principalmente pela preguiça que tenho em relação ao exercício de retirar as espinhas do dito.
Foi, por isso, que selecionei estes dois tintos, mais para a companhia da carne, sobretudo para pratos de carnes vermelhas, de caça e brancas, mas não para todos os casos, já que para algumas versões de cozinha menos condimentada, de massas ou arrozes, por exemplo, geralmente prefiro um rosé. Mas cada caso é um caso.
Música e dança sempre
Depois, há sempre música para pôr, com uma seleção feita para todas as ocasiões, incluindo esta, e também gente que quer dançar. Mais do que festejar o Carnaval, é sempre bom comemorar o prazer de estarmos juntos. Por agora, em casa.
Espumante Marquês de Marialva Bical & Arinto Reserva 2017
Produtor: Adega Cooperativa de Cantanhede
Casta: Bical e Arinto
Ano de colheita: 2017
No nariz sente-se um aroma intenso, no qual se salientam as notas de flores brancas e de fruta branca e de caroço, a lembrar maçã e pêssego, com um toque de fermento. Na boca, é fresco, longo e persistente, com um toque citrino a lembrar limão, no final, mais um pouco de brioche. Fez grande parceria com carpaccio de atum e bacalhau fumado, as entradas de um repasto de roupa-velha, ou seja, da mistura dos ingredientes do bacalhau cozido da véspera: bacalhau, ovos cozidos, batatas e grão, temperados com cebola ligeiramente estrugida em azeite temperado com louro. Mas é boa companhia para todos os momentos de uma refeição, ainda mais em momentos de alegria como os do Carnaval.
José de Sousa Reserva 2017
Produtor: José Maria da Fonseca
Casta: Grand Noir, Aragonez e Syrah
Ano de colheita: 2017
Parte das uvas utlizadas na produção deste vinho alentejano são fermentadas em ânforas de barro, parte em lagares e parte em cubas de inox, antes de ser feito o lote que estagia oito meses em barricas de carvalho francês e americano. É um vinho com boa longevidade, bom parceiro de assados no forno e grelhados ou fritos de carnes vermelhas, ou de uma boa feijoada temperada com chouriço de carne seco ao ar e fumado. Trata-se de um tinto de aroma profundo, marcado pelas notas de argila, frutos pretos, caixa de tabaco e café. Na boca, tem estrutura, com tanino fino bem integrado. Um vinho que precisa da companhia de comida. Sirva-o a 14-16 ºC no copo.
Quinta do Gradil Alicante Bouschet 2018
Produtor: Parras Wines
Casta: Alicante Bouschet
Ano de colheita: 2018
Vinho tinto de aroma fresco, em que se salientam as notas de frutos pretos e silvestres, cacau, cânfora e caixa de tabaco. Na boca, é longo, fresco e elegante, com tanino fino presente. Foi bom parceiro de um cozido completo, com alguns enchidos fumados, e é também boa companhia de carnes gordas e assados no forno, comida de conforto que é sempre bem-vinda depois de festejar o Carnaval ou outra coisa qualquer. Sirva-o a 17-18 ºC no copo e verá como vai continuar a sentir a alegria do dia, agora à mesa.
Espumante Quinta das Bágeiras Grande Reserva Baga Bairrada 2015
Produtor: Quinta das Bágeiras
Casta: Baga
Ano de colheita: 2015
É um espumante de aroma complexo, com algum floral e notas de frutos vermelhos, rebuçado de framboesa, anis e croissants acabados de fazer. É um prazer que começa no nariz e se prolonga na boca, onde tem corpo, mas é fresco e longo, persistente, com alguma mineralidade. Para companhia, presunto de pata negra ou de bísaro com muitos meses de cura, carpaccio de salmão temperado com azeite, sal e pimenta, mais algumas alcaparras e ovo cozido e choco frito, e tempo, para saborear tudo devagar. Foi isto, desta vez, mas esta espumante também faz companhia a muitas mais coisas. O leitão à moda da Bairrada ou de Negrais é inevitável, carne grelhada de vitela na brasa, ou na chapa, em casa, também. Sirva-o a 8-10 ºC e beba devagar, porque as coisas boas devem ser apreciadas com tempo. Depois, faça a festa.
Por C-Studio / Cofina Media