Vinhos para pratos em que o ovo é rei Vinhos para pratos em que o ovo é rei

Vinhos para pratos em que o ovo é rei

min de leitura

O que escolher para companhia de comida com um ingrediente de tantos pratos da nossa culinária?


Publicado em 10-Out-2023 por José Miguel Dentinho, jornalista

Os ovos fazem parte da minha vida desde que me lembro. Os de galinha, como é evidente, porque apenas provei os de codorniz, fritos e cozidos, mas pouco acrescentaram à minha vida, tanto a nível de sabores como de aromas.

O meu ovo estrelado

A minha avó Toninha fritava-os na panela onde fritava quase tudo, num processo quase instantâneo que os deixava tostadinhos por baixo, com a clara bem firme e a gema com a consistência certa para molhar o pão por cima. É assim que ainda hoje gosto de os comer, com a gema temperada com sal e pimenta-preta. Uma delícia, pelo menos para mim. E é assim que os faço para o prato de ervilhas com ovos, que leva azeite e tem sempre cebola, um pouco de alho e cenoura e chouriço de carne fumado.

Pode parecer estranho, mas gosto da companhia de um vinho profundo, fresco e complexo, como o tinto que sugiro abaixo, para este prato, que como sempre bem devagar porque me dá muito prazer fazê-lo. Outro prato em que o vinho tinto é grande parceiro e o ovo frito é essencial e faz parte integrante é o bitoque.  O resto é uma fatia de carne, que prefiro de vaca e da vazia, que saberá sempre melhor se for temperada com alho e algum louro. O ovo é sempre saboreado primeiro, porque não gosto da mistura de sabores com a carne, e depois, fatia a fatia, batata bem frita a batata bem frita, vai o resto, entremeado com boa conversa e um pouco de vinho, de forma sempre pausada, porque gosto de apreciar bem o que estou a comer e beber.

Mas é no bacalhau à Brás, onde talvez prefira a companhia de um branco cheio de personalidade como aquele que sugiro abaixo, que gosto mais de ver glorificado o ovo. Com a cebola bem refogada na companhia de lascas de bacalhau cozido, para mim ligeiramente salgado e algumas folhas de louro até tudo ter libertado bem os aromas e sabores, é uma delícia que tem de ser repetida várias vezes, sobretudo se a batata tiver sabor e for bem frita, e a travessa chegar bem molhadinha à mesa.

Depois temos os doces e os bolos, nos quais os ovos são reis e senhores, por serem essenciais para a sua confeção ou por se salientarem nos seus aromas e sabores. Para mim, há uns mais irresistíveis do que os outros, como os queijinhos de amêndoa do Algarve, hoje mais difíceis de encontrar nas pastelarias locais, não sei bem porquê. Mas como não há por cá, vou sempre a dois ou três sítios, no Algarve, que os vendem ou sei que são feitos, e encomendo-os para trazer, porque há gente da família que não os dispensa e fazem quase sempre a encomenda.

Tentações doces portuguesas

Depois são os travesseiros de Sintra, as nozes douradas, de Galamares, e os ovos-moles de Aveiro. E ainda há a encharcada, a lampreia de ovos, o pão de ló de Rio Maior e o pudim abade de Priscos, tudo coisas muito doces, tentadoras e deliciosas, pelo menos para mim. Para tudo isto e todas as sobremesas e pastelaria que se fazem em Portugal, gosto de vinhos fortificados com bastante tempo de estágio em madeira, frescura, volume e elegância, como os que sugiro abaixo. Vale sempre a pena ter, como eu faço, uma garrafa, no frio, de uma das três denominações de origem portuguesas que produzem vinhos deste tipo, para saborear um cálice ao final do dia de trabalho. Claro que só faço isso nos dias em que não pratico desporto, mas é algo que sabe sempre muito bem na companhia de amêndoas e cajus torrados.

Não é fácil de conjugar ovos com vinho, principalmente se forem apenas cozidos, fritos ou mexidos. Mas como são indispensáveis em tantos pratos da cozinha portuguesa, desde os mexidos com espargos verdes ou farinheira ao fondue de carne, onde são essenciais para os molhos rosa, de alho, picles e alcaparras, os mais habituais cá de casa, e outros, há sempre a hipótese para a companhia de um vinho, como os que sugiro este mês.

Vidigueira Reserva Branco

Produtor: Adega Cooperativa da Vidigueira
Casta: Antão Vaz e Perrum
Ano de colheita: 2021

Branco alentejano de aroma intenso, marcado por notas de madeira nova, caixa de charutos e amêndoas, mel e passas de ameixa branca. Boca fresca, muito equilibrada e elegante, com corpo e textura, longa e persistente. Um branco que é boa companhia para uma omelete de queijo e ovos, risoto de cogumelos, açorda de gambas ou arroz de peixe, mais presunto e queijo seco. Servir a 10-12 ºC no copo.

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Ilha Tinta Negra “A Emblemática”

Produtor: Diana Silva
Casta: Tinta Negra
Ano de colheita: 2018

Vinho madeirense de cor rubi aberta, límpido, de aroma intenso, fresco, em que se salientam notas de rosa, fruta vermelha e mineralidade que lembra barro vermelho. Boca com textura e estrutura, longa e persistente, num vinho para carnes grelhadas e alguns queijos, que fica bem com ovos de tomatada, por exemplo. Servir a 18 ºC no copo.

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Estremus Tinto

Produtor: João Portugal Ramos
Castas: Alicante Bouchet e Trincadeira
Ano de colheita: 2019

Tinto alentejano de aroma contido, complexo, no qual se salientam notas de fruta silvestre e preta e caixa de charutos. Boca fresca e elegante, com volume e tanino muito bem integrado, com final longo e persistente. Sirva-o a 16-18 ºC no copo com um bacalhau à Brás, por exemplo. Mas vai bem com pratos de carnes vermelhas e de caça, grelhadas, fritos e assadas.

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Porto Tawny 20 Anos

Produtor: Vieira de Sousa – Vines & Wines
Castas: entre outras, Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz, de várias vinhas da família proprietária

Vinho do Porto de aroma intenso, complexo, em que se salientam notas de frutos secos, alguma madeira, caramelo e geleia. Boca elegante e fresca, envolvente, com um final longo e persistente com as notas de frutos secos do nariz. Sirva-o a 16 ºC no copo, na companhia de uma noz de Galamares, de um queijinho ou de uma fatia de morgado de amêndoa do Algarve. Mas também vai bem na companhia de frutos secos como nozes e amêndoas, torradas, em qualquer altura do dia.

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Moscatel Alambre 20 anos

Produtor: José Maria da Fonseca
Casta: Moscatel de Setúbal

Vinho fortificado da Península de Setúbal, de aroma intenso, complexo, no qual se salientam aromas de mel, laranja cristalizada, geleia e frutos secos. Na boca, é muito elegante, volumoso e concentrado, sedutor, com final longo e persistente. Um belo vinho para a companhia de pudim abade de Priscos, tortas de Azeitão, pastéis de nata, pão de ló e doces conventuais, que fica bem com queijos secos. Servir a 16 ºC no copo.

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Vinhos para pratos em que o ovo é rei | Unibanco

Por C-Studio / Cofina Media

A neurologista Dulce Deutel e os segredos para uma boa noite de sono

A neurologista Dulce Deutel e os segredos para uma boa noite de sono

Um bom sono é um bem precioso, mas cada vez mais difícil de alcançar, como nos explica a Dra Dulce Neutel, uma das maiores especialistas no tema.