Vinhos para pizzas
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Os aromas e os sabores das muitas variações de coberturas deste prato querem sobretudo brancos contidos e elegantes.
Publicado em 28-Mar-2023 por José Miguel Dentinho, jornalista
Prefiro as pizzas com origem no Sul de Itália, da Campânia para baixo, que são mais espessas e feitas com produtos mais frescos, ou seja, são mais saborosas, pelo menos para mim. As melhores que comi foram na Calábria e na Sicília e até há uma que nunca mais me saiu da memória, que saboreei na PizziCotto, nos arredores de Palermo, que tinha, para além do tomate na base, presunto, cogumelos, manjericão e rúcula. A salada de tomate e mozarela, temperada com orégãos, ajudou ainda mais à festa, tal como o branco La Segreta de 2018, um vinho da casa siciliana Planeta. Mas a pizza não é dos meus pratos favoritos, principalmente as das cadeias de fast food e raramente peço uma, já que a comida italiana oferece muito mais escolhas, incluindo vários queijos magníficos, enchidos e outras carnes curadas e fumadas, azeitonas, pratos de peixe, massas e pastas, e por aí adiante.
Da origem aos dias e hoje
Conta-se que a origem da massa de pizza se deve aos habitantes do Antigo Egipto, que desenvolveram e aperfeiçoaram uma espécie de pão plano a partir da mistura de farinha e água, semelhante ao que faziam os gregos com base em farinha de grão ou trigo, por exemplo. E há vários escritos em que o termo pizza tem origem na palavra latina picea, que os romanos utilizavam para descrever o pão assado no forno. Tal como hoje, eram todos consumidos com diversas coberturas, começando pela de azeite e ervas.
Mas a origem da pizza, tal como a conhecemos, ocorreu na região italiana de Campânia, onde fica a cidade de Nápoles, cerca do século XVII, quando os seus habitantes começaram a acrescentar-lhe rodelas de tomate. Era também servida, entre outros, com queijo, anchovas, toucinho e alho, em tascos e barracas de rua à gente mais pobre da cidade, que assim mitigava a fome.
Diz a lenda que foi uma visita do rei Umberto I e da rainha Margherita a Nápoles, em 1889, após a reunificação de Itália, que contribuiu para celebrizar inicialmente este prato. Fartos da sua dieta feita com base na cozinha francesa, convidaram Giovanna Brandi e o seu marido, Raffaele Esposito, a fornecer-lhes uma novidade para os monarcas: pizzas. E eles assim o fizeram, oferecendo-lhes três variedades, incluindo uma criada especialmente para a rainha, a pizza margherita, que levava, e ainda leva, tomate, mozarela fresca e folhas de manjericão, para representar as cores da bandeira italiana. A receita teve o aplauso da monarca e deu direito a decreto real ainda hoje exposto na Pizzaria Brandi, o seu restaurante e casa histórica que ainda se mantém aberta em Nápoles. A partir daí o consumo deste prato disseminou-se por toda a Itália e um pouco por todo o mundo, transportado com as levas de emigrantes italianos que se espalharam sobretudo pela Europa e continente americano.
Variedade quase infinita
A variedade de coberturas que se pode pôr sobre uma pizza é quase infinita, com adaptações que mudam conforme as casas que as fazem e as características alimentares de cada país. As mais tradicionais levam quase sempre uma base de tomate e podem incluir queijo mozarela, parmesão, gorgonzola, provolone, chouriço, presunto, salame, orégãos, manjericão, pimenta, azeitonas verdes e pretas, tomate seco e anchovas. Pensando em tudo isso, selecionei cinco vinhos para companhia das pizzas desta crónica, com a elegância necessária para equilibrarem os sabores e os aromas mais tradicionais deste prato.
Monte das Bagas de Ouro Reserva Branco
Produtor: Adega do Montado
Casta: 2020
Ano de colheita: Antão Vaz
Vinho branco do Alentejo de aroma intenso, em que se salientam notas de tangerina, pera e fruta tropical madura e madeira. Boca fresca, com acidez marcada e final longo. Um vinho que ficará bem com pizzas tradicionais e massas de peixe e marisco. Servir a 12 ºC.
Guru Branco
Produtor: Wine & Soul
Castas: Viosinho, Rabigato, Códega do Larinho e Gouveio
Ano de colheita: 2020
Branco de cor citrina e aroma marcado por notas de frutos secos e especiarias, e citrinos a lembrar tangera e toranja. Boca fresca, com acidez marcada, mas também com algum volume e untuosidade e final longo. Um vinho para pizzas tradicionais como a de quatro queijos, mas também para as que levam atum ou anchovas, por exemplo. Se não gostar de pizzas opte por um arroz de peixe ou de lingueirão sem tomate, ou um peixe assado no forno. Sirva-o a 12-14 ºC.
Quinta de Santa Teresa Curtimenta
Produtor: A&D Wines
Casta: Avesso
Ano de colheita: 2022
Vinho produzido no Minho de cor alaranjada e aroma muito contido, no qual se salientam notas citrinas a lembrar tangerina e laranja, e de madeira. Na boca, tem estrutura de tanino fino, textura, boa acidez e final longo. Um vinho gastronómico para uma pizza que leve, entre outros, anchovas, que ficará também bem com febras grelhadas ou petingas fritas. Servir a 10-12 ºC.
Taboadella Rosé Caementa
Produtor: Taboadella
Casta: Tinta Roriz
Ano de colheita: 2021
Vinho do Dão de cor rosa pálida e aroma contido, fresco, em que se salientam notas de rosas, mirtilos, ameixa preta e frutos silvestres. Boca fresca, fina e elegante, com um final longo com persistência de notas de mirtilos e ameixa preta. Um belo vinho para a companhia de uma pizza margherita, um ceviche ou um arroz de peixe sem tomate. Sirva-o a 10 ºC.
Tinto do Tareco
Produtor: Aconchego da Aldeia
Casta: Trincadeira, Aragonês e Tinta Grossa
Ano de colheita: 2022
Vinho de talha alentejano de cor granada e aroma intenso, fresco, com notas de framboesa e morango e minerais que lembram argila e barro. Boca fresca, com acidez marcada, textura e estrutura de tanino fino, num vinho equilibrado e de final longo, com notas minerais e de fruta vermelha. É uma boa opção para a companhia de uma pizza que leve chouriço, bacon, salame ou presunto, para além dos outros ingredientes, que ficará bem com bacalhau assado no forno, por exemplo. Sirva-o a 16-18 ºC no copo.
