Vamos conhecer o Norte na companhia destas mulheres extraordinárias Vamos conhecer o Norte na companhia destas mulheres extraordinárias

Vamos conhecer o Norte na companhia destas mulheres extraordinárias

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Um roteiro inspirado na vida e obra de figuras como a Ferreirinha, Mumadona, Carmen Miranda ou Sophia de Mello Breyner Andresen.


Publicado em 28-Mai-2021

Trata-se de um roteiro sem ponto de partida, nem de chegada. Uma rota sem ordem, que vai navegando ao sabor da história de mulheres que marcaram esta região e o país. Criada pelo Turismo do Porto e Norte, esta é uma viagem em forma de homenagem, que muito justamente destaca o papel feminino na alma da região.

Ao todo são 19 homenageadas, embora por vezes não se trate de mulheres de carne e osso, mas de um grupo ou uma representação, como as rendilheiras de bilros, de Vila do Conde, ou as carquejeiras das Fontainhas, que durante mais de 100 anos, até meados do século XX, levaram a carqueja do rio até aos fornos de pão da Invicta, 200 metros rampa acima, com 20% de inclinação, e carregadas com molhos de 50, 60 quilos desta erva nas suas cabeças. E ainda há quem ouse falar em sexo fraco…  No bairro está hoje uma estátua de homenagem, no cimo da rampa que em tempos foi “do pão” e agora leva também o nome das carquejeiras.

Mas para começar esta viagem, terá de recuar – cronologicamente – aos tempos da ocupação romana e à Vénus de Vidago, tosca estátua esculpida em granito e símbolo da fertilidade, pois representa uma mulher grávida. Exposta no museu da região flaviense, a estátua é a “nossa Vénus de Milo” e a desculpa perfeita para visitar a cidade de Chaves e toda a região envolvente. Depois poderá seguir viagem através da história de Mumadona Dias (c. 900 – 968). Verdadeira figura de poder, Mumadona foi condessa do Condado Portucalense e seria provavelmente a mulher mais poderosa na Península Ibérica no seu tempo. Foi ela quem mandou erigir um mosteiro (dedicado a São Mamede) em Guimarães e, mais tarde, um castelo para sua proteção, e são estes dois edifícios que explicam o protagonismo que a cidade viria a assumir na formação do reino. Hoje, perto do castelo, ergue-se a sua estátua, que merece tantas fotografias quanto a do nosso primeiro rei.

Daqui saltamos diretamente para um dos nomes mais incontornáveis a norte: Dona Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha. Empreendedora e visionária, o seu nome é indissociável das encostas e vinhedos do Douro. Lutou contra os políticos, que acusava de estarem mais interessados em construir estradas e comprar vinhos espanhóis baratos do que em apostar na produção nacional. Esteve na vanguarda do combate à praga da filoxera e modernizou a produção do vinho. Desenvolveu as caves de Gaia e ajudou inúmeros viticultores e agricultores durienses tanto que, quando morreu, em 1896, com 84 anos de idade, acorreram mais de 300 mil pessoas ao seu funeral – o que simboliza bem a sua importância e o quanto afetou positivamente a vida dessas pessoas. Deixou também um império com perto de 30 quintas, entre as quais alguns dos nomes mais importantes ainda nos dias de hoje, como Vallado, Vesúvio, Meão, ou Porto – muitas delas de portas abertas para receber os visitantes interessados em conhecer melhor esta paisagem Património da Humanidade.

A viagem pelo Norte prossegue com D. Teresa, primeira “rainha” de Portugal, que deu carta de foral a Ponte de Lima, passando por Seide, perto de Vila Nova de Famalicão, para visitar a Casa Museu Camilo Castelo Branco e conhecer a história de Ana Plácido, poetisa, que chocou a tradicional sociedade famalicense em finais do século XIX ao viver abertamente, sem “papel passado”, com o escritor.

Sophia de Mello Breyner Andresen é a senhora que se segue, com um convite a visitar a sua casa de família, hoje um dos espaços mais visitados do Porto: o palacete do Jardim Botânico. Jardins, aliás, que inspiraram algumas das suas famosas histórias infantis.  Segue-se Agustina Bessa-Luís, nome maior das letras e para sempre associada a Vila Meã, em Amarante. Aqui nasceu, numa casa muito próxima do antigo pelourinho, “na rua principal e coração da vila, eu nasci num domingo de chuva às seis horas da tarde”. Por aqui foi batizada, e logo na igreja do Mosteiro de Salvador de Travanca, um excecional e muito bem preservado templo medieval que integra hoje a Rota do Românico.

E é por esta rota que vamos continuar, pois assim chegamos rapidamente a Marco de Canavezes, terra onde, além de vários exemplos Românicos, como a Ponte do Arco, nasceu um dia Maria do Carmo Miranda da Cunha (1909 – 1955). Nunca houve em Portugal, nem no Brasil (país onde viveu desde a mais tenra idade), artista com mais projeção internacional: participou em 14 grandes produções de Hollywood, atuou na Casa Branca para o presidente Roosevelt, e chegou a ser a mulher mais bem paga dos Estados Unidos. Se ainda não sabe de quem falamos, talvez o nome artístico ajude: Carmen Miranda. Cantora, atriz e dançarina, famosa pelos figurinos exóticos e chapéus de frutas. A sua terra natal nunca a esqueceu e dedica-lhe o Museu Municipal que vai abrir em junho, onde não faltarão as réplicas da sua estrela do Passeio da Fama de Hollywood e do painel com assinatura e mãos no Grauman’s Chinese Theatre. O que é que a baiana tem…